Foto: Reprodução
O alcoolismo é uma doença cerebral crônica caracterizada pelo consumo compulsivo, perda do controle em relação ao uso, com sintomas negativos ao não fazer uso da substância. Será que o alcoolista sabe que é? O que é conhecido sobre esta doença que acomete cerca de 10% da população brasileira? O programa Faz Sentido debateu esse assunto na edição que foi ao ar em 1º de outubro, na TV Diário e na Rádio CDN. A apresentadora e jornalista Fabiana Sparremberger conversou com o psicólogo Patrick Camargo sobre o alcoolismo na sociedade, um problema que atingiu índices alarmantes depois da pandemia de Covid 19.
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– As pessoas comiam mais, faziam mais alimentos na sua própria casa e pediam pelo delivery. Tudo era motivo para beber. E a gente sabe que tudo que é em excesso revela a falta de algo. Esse uso excessivo de álcool revela muito disso, porque é como se fosse uma supercompensação. Só que o álcool é um depressor do sistema nervoso central. Costumo ilustrar assim: é como se estivesse um muro no nosso cérebro; quando o álcool chega, esse muro cai. Por isso, acontecem muitas coisas – explica o psicólogo.
Dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS, 2019) mostram que o maior índice que consumo cotidiano – ao menos uma vez na semana – está entre adultos, com idades entre 25 e 39 anos. Mas logo depois, em segundo lugar, estão os mais jovens. E aí um alerta:
– Os jovens estão começando a beber mais cedo? – questionou Fabiana.
– O uso em excesso começava a partir dos 16 anos. Hoje, nós temos pesquisas que mostram que começam a partir dos 13, 14 anos. E aí uma problemática: o alcoolismo é genético. Todos nós temos essa carga genética. Mas a gente tem um controle: o despertar desse gene. Claro que não é somente um gene responsável por isto, mas se nós o despertamos cada vez mais cedo, consequentemente, ao longo da vida, o uso se cronifica e há dependência – respondeu o psicólogo.
Aliás, é a dependência um dos principais indicadores da doença, que foi incluído na Classificação Internacional das Doenças (CID-8) em 1967. No entendimento da Organização Mundial de Saúde (OMS), trata-se de uma patologia grave, problema de saúde pública e causadora de mais de 200 outras doenças e lesões. Mas o que faz com que a pessoa seja alcoolista ou não. A quantidade? A frequência de uso? Ambos? Ou outros aspectos? O psicólogo Patrick Camargo esclarece:
– O fator determinante é se você faz o uso constante de dois copos de álcool na semana. Não importa se eu tomo na segunda ou na sexta. Eu já sou considerado um alcoolista, pois preciso daquela substância. A linha é muito tênue, porque soa muito pesado. Se um adolescente que, por exemplo, toma um copo no fim de semana, ele está despertando para essa vontade e usando algo que, possivelmente, mais à frente vai aumentar o uso dessa substância, ocasionado o alcoolismo. Quem se salva é quem tem um monitoramento muito forte, que cuida muito da saúde. Esta semana estava vendo uma reportagem da Gisele Bündchen, 43 anos. Em uma entrevista, ela disse que parou de beber há dois anos. Segundo ela, sem especificar o quanto, nem falar explicitamente se era uma alcoolista, era bastante. Ela decidiu parar em função do seu trabalho com a imagem e com o corpo. Nas suas palavras, foi a melhor coisa que ela fez, porque ela se focou em outras coisas como exercício físico e qualidade de vida. O fator do autocuidado como fator de proteção.
O exemplo revela capacidade de interromper o ciclo de consumo de forma espontânea. Mas será que isso sempre é possível? Depois de começar, quem bebe sabe a hora de parar? Na enquete disponibilizada no Instagram do Diário, 90% das pessoas que responderam dizem que não.
– O alcoólatra não consegue parar. Ele não sabe a hora de parar. Ele começa a beber, porque necessita para ter uma regulação do organismo, pois está ansiando pela substância.
Uma informação importante, e um alento, é que esta doença tem tratamento. Com acompanhamento adequado e rede de apoio, a chave pode virar. O alcoolismo não tem cura, mas pode ser administrado.